quinta-feira, 24 de julho de 2008

Romani Ite Domum (as pessoas chamadas romanos entram dentro de casa)


Estão a ver A Vida de Brian?
Estão a ver aquela cena em que a Frente do Povo da Judeia (não a Frente Popular da Judeia) está reunida na casa do velho pedinte a planear um rapto para deitar abaixo o império romano?
Estão a ver quando o Reg (John  Cleese) faz um pequeno discurso a condenar os romanos e a enumerar todas as atrocidades que eles cometeram, e pergunta "e o que é que eles alguma vez fizeram por nós?" e, um a um, os membros da Frente do Povo da Judeia vão dando exemplos de coisas que os romanos fizeram?
Estão a ver como a cena vai fazendo um crescendo cómico até o Reg conclui:

"All right, but apart from the sanitation, the medicine, education, wine, public order, irrigation, roads, a fresh water system, and public health, what have the Romans ever done for us?"

Já viram que, desta lista de benesses adquiridas através da colonização, não se menciona uma única vez A Sandália Romana?

Estão a ver como o Povo da Judeia, que é sempre representado vestido com uma variedade de confecções elaboradas de serrapilheira e com um corte deliberadamente sacodebatatesco, ainda assim tem o bom fashion sense de não considerar a sandália romana uma coisa positiva?

Então, o que é que aconteceu?

Como é que se decidiu recuperar, como acessório, um modelo de calçado que faz pneus nas pernas e só poderia racionalmente ser admirado por adeptos do bondage mais extremo?

Quero exortar os leitores deste blogue (ambos os dois) a fazer o seguinte, em nome do bom gosto e do bom senso: quando virem alguém com sandálias romanas calçadas, puxem-lhes as orelhas, arrastem-nos até ao muro mais próximo e obriguem-nos a escrever, em latim, "não volto a usar sandálias romanas", cem vezes.

Para que aprendam.

sábado, 19 de julho de 2008

The L Girl


Pois não sei, faltam-me as palavras e as lágrimas quase me correm pelo rosto abaixo.
Diz quem não sabe (corre pelos tablóides e pelos blogues) que a Lindsay Lohan tem há meses uma relação com a Samantha Ronson, e que agora a assumiu publicamente.
Há coisas que parecem boas demais para ser verdade, e depois há coisas que são boas demais para serem permitidas pelos deuses. Eu nestas coisas sou muito grega e acho que, quando uma child star virada sex symbol,  que esgotou a New York e quase crashou o site da revista quando fez uma sessão fotográfica com o Ben Stern a recriar a famosa "white session" da Marylin, que é conhecido por levar mais coca que um cargueiro colombiano, que tinha como character references Paris Hilton e Nicole Ritchie, que tinha como manager a mãe (que agora é "manager" da outra filha de 14 anos), que foi despedida por um estúdio por chegar tarde e ressacada às filmagens, que faz como ninguém o olhar trágico da mulher-criança com um passado difícil e uma personalidade conturbada, dizia, quando uma mulher destas recebe um anel de noivado da Cartier de uma mulher que é DJ, a coisa mais cool que se pode ser, filha de um milionário da Yahoo, irmã do Mark Ronson (produtor da Amy Winehouse e da Lilly Allen), e que para além de fazer o beicinho butch melhor do que muitas, ainda vem basicamente da casta mais fixe que há, acho que quando isto acontece, dizia eu, Zeus e Hera e Vénus e Vishnu e Shiva e todos os seus amigo e conhecidos olham para baixo e pensam: mas afinal, são só humanas! Quem lhes disse que podiam ser tão felizes, tão belas e tão cool? Tais coisas só aos deuses são permitidas!
E depois causam um cataclismo qualquer. 
Se não fosse La Lohan; se não fosse uma DJ que usa, por amor dos céus, uma fedora!, como quem está acima das leis que ditam que o retro eighties já estar a chegar ao fim; e se o anel não fosse Cartier, os deuses até eram capazes de fechar os olhos. Mas esta conjugação de coisas perfeitas e deliciosas é quase uma afronta. 
E se um dia isto acabar mal, vou chorar muito, como no fim das novelas, ou como no casamento do Carlos e da Diana.
Mazel-Tov para as meninas!

sexta-feira, 11 de julho de 2008

True Story


Há uns meses atrás, a PEF (Pequena Empresa Familiar) onde eu trabalho foi comprada por uma GMI (Grande Multinacional Importante). Foi uma união feliz e desejada por ambas as partes, um pouco como o casamento da Duquesa do Cadaval com o Príncipe de Orleans: uma coisa bonita que fica bem num spread da Vogue e que, embora inevitavelmente acabe também nas páginas da imprensa cor-de-rosa, faz todo o sentido financeira, genealogica e sentimentalmente. A única falha nesta comparação é que, como todos sabemos, os executivos das GMI são, ao contrário dos aristocratas e monarcas sem trono dos nossos dias, plenipotenciários. Um Orleans ou um Bragança pouco mais pode almejar que trazer visibilidade a algumas boas causas e/ ou acenar à distância num raro casamento real, enquanto que os executivos das GMI vivem em casas palaciais, trabalham em instalações palaciais, compram arte, são mecenas de tudo e mais alguma coisa e, caso desejem, podem mandar executar, das mais diversas e criativas formas, quem bem entenderem. Para além disso, mais ou menos governam o mundo, ao contrário dos AMST (aristocratas e monarcas sem trono). Enfim, plus ça change...
Como em qualquer casamento, nós os da PEF mudámo-nos para a casa da GMI, onde fomos muito bem recebidos e, depois de arrumarmos o enxoval, lá nos dedicámos à vida quotidiana de deveres matrimoniais. Toda a gente me tinha avisado que o ambiente de uma PEF é muito diferente do de uma GMI (sendo o da primeira claramente o preferido). Nas GMIs, disseram-me, as pessoas vivem enterradas em burocracia, a cumprir processos incompreensíveis para fazer funcionar sistemas ultrapassados e ineficientes. Uma vez mais, um pouco como uma monarquia absoluta no seu pior: uma espécie de despotismo iluminado sem terramotos nem Baixas Pombalinas.
Como a mais nova das noivas de Barba-Azul, não vi nada de assustador ou suspeito na minha nova casa. As pessoas eram simpáticas, as instalações óptimas, o sistema parecia funcionar e temos autonomia q.b. 
Como acontece em muitas GMIs (exceptuando aquelas em que os trabalhadores, ups, colaboradores, são ou alimentados a soro para não saírem do local de trabalho, ups, colaboração), a nossa tem não só uma cantina com óptima comida como também, em cada andar, uma pequena copa onde os macrobióticos, os alérgicos a tudo e as inevitáveis fêmeas que se alimentam exclusivamente de batidos diuréticos de Maio a Setembro podem fazer as suas refeições. E foi aí que tive o meu primeiro vislumbre do estranho mundo das GMIs.
Na sexta-feira, fui à copa aquecer a minha refeição macrobiótica e vi uma banana em cima da mesa. Na segunda-feira, fui misturar o meu batido diurético e lá continuava a banana. Na quinta-feira, fui aquecer o meu bacalhau à brás especial para alérgicos a bacalhau e a banana, impávida e serena, permanecia em cima da mesa, talvez um pouco mais sombreada mas ainda apresentável.
Na semana seguinte comi na cantina e foi só na outra segunda-feira que voltei à copa para aquecer um chá. Em cima da mesa vi um objecto oblongo e recurvado de cor violácea escura, e no ar pairava um odor inominável. Mal a reconheci, mas era a minha boa velha amiga banana.
Foi só passados mais uns dias que a estranheza da situação me tingiu em pleno. A banana, como o Corvo de Poe, não se mexera uma polegada, mas, como o Corvo de Poe, estava agora escura como o bréu. Uma banana preta. Mais precisamente, uma banana deixada apodrecer.
Comentei com uma colega da minha PEF que havia uma banana preta, possivelmente podre, na copa. Quando ela me perguntou: "Então e ninguém faz nada?", tenho de admitir que me ocorreu chamar a Associação Protectora de Bananas para castigar o responsável pelo apodrecimento do simpático e outrora fresco e vital fruto. E foi então que percebi: numa GMI, ninguém é responsável por uma banana. Alguém a compra, alguém a traz para a empresa, alguém a deixa de parte e ela apodrece. Mas, se chega a acontecer que alguém repare, ninguém está autorizado a deitá-la fora (ou, pra os mais aventureiros, a comê-la). Ainda não sei se isso é um sistema eficaz ou não, mas é certamente estranho. 
Ah, e eu enchi-me de coragem e deitei fora a banana. Foi difícil, mas era um acto de misericórdia e alguém o tinha de o fazer.
 
 

Quem quer casar c' Carochinha?


Não sei o que me passou pela cabeça quando vi esta foto da... ora bolas, vocês sabem perfeitamente quem é, no excelente blogue da Amy Spiridakis no New York Times

http://themoment.blogs.nytimes.com/author/nytspiridakis

Os pensamentos, ditos espirituosos, farpas infecciosas, retorques maldosos e investidas queirosianas atropelaram-se na minha mente. Por onde começar? Pelos pés e as unhas meio pintadas? Pelo tapete encardido a eles subjacente? Pela relíquia de aspirador usada para o "limpar"? 
Ou, numa abordagem completamente diferente, pelo lenço á la bonne perfeitamente aplicado? Pelo cigarro ao canto da boca? Pelo kohl impecavelmente desenhado, mesmo para os afazeres domésticos?
Ou pelo facto de a senhora estar de pé, tout court?
Seja como for, merece um aplauso, não?
Take a bow, Mrs. Amy Winehouse!

N.B. - Esta não é a foto que está no blogue, a outra é melhor, vão lá ver que vale a pena!

domingo, 6 de julho de 2008

IT'S ALIVE


É VERDADE!
Depois de semanas de ausência, os crocs verde lima voltaram à vida!
E nem foi preciso contratar um assistente chamado Igor para chafurdar por cemitérios à procura de partes; graças a um patrocínio de um proeminente banco lisboeta e ao mecenato de um grande player da finança internacional, os crocs voltam à vida perante os vossos olhos.
Muita coisa se tem passado entretanto. A Hillary saiu da corrida às presidenciais. O Paes do Amaral não comprou uma nova editora. Há um novo cessar fogo no Médio Oriente. O Rufus esteve em Vila Nova de Famalicão (coitado!). 
E o Ver\ao chegou, finalmente. Está na hora de calçar os crocs.