segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Credo!


E achava eu que isto ia mal...
Pelo Natal, um amigo ofereceu-me um perfil no Facebook (sim, sei que é de graça, foi uma piada, a não ser que o meu amigo fosse o Steffano Dolce ou a Miuccia Prada, porque adorava ter um perfil Prada, mas não foi). Estava a dar voltas àquilo e a tentar ver se valia os milhões que a Google pagou pela cena quando vi, na configuração do perfil, que uma das opções para descrever o estado civil é "isto está complicado".
Canta Rufus Wainwright que "a vida é um jogo e o amor verdadeiro é um troféu". Sim, é cínico, é charmoso, é giro de se dizer às duas da manhã a uma criatura wide-eyed que se quer impressionar, mas é só uma canção. 
Há uns tempos atrás, reparei que uma das mensagens pré-definidas da Tmn, a par de "estou já a ir" e "vemo-nos às ... em ..." era - a sério, está lá no site deles! ... estão prontos para isto, oh três leitores fiéis?... Uma das mensagens pré-definidas era... "amo-te".
O amor nem sequer é um troféu, é uma mensagem pré-definida. Sei que há muitas formas de amar; há quem construa um Taj Mahal, há quem vá preso dois anos (referência obscura a Oscar Wilde, se calhar até é mau exemplo porque depois ele ficou todo lixado com o namorado quando foi mesmo preso e amuou para o resto da vida, mas enfim), há quem cante o fado, mas parece-me que carregar em 6 teclas de um telemóvel não é muito. Quando se ama a sério. Digo eu, não sei.
Não quero parecer a Carrie Bradshaw, até porque estou zangada com essas quatro senhoras desde que saiu aquela abominação de filme, mas será que isto está assim tão complicado?
Parece-me que descrever o seu estado civil como "isto está complicado" é como descrever a existência humana como "isto dá trabalho" ou a gravidez como "isto engorda". São relações, caramba! Envolvem outras pessoas, sistemas operativos altamente complexos. Eu já fico com dores de cabeça a tentar perceber como funciona o meu leitor de mp3, quanto mais com uma relação!
E já que incluem essa opção, porque não outros clássicos, como "a minha mulher não me compreende", "o meu namorado nunca ouve o que eu digo", "a minha mãe tinha razão acerca de ti", "estamos a tirar um tempo" ou "gosto dela mas não a amo"? Lá está, se tivessem pensado nisso antes, aposto que tinham conseguido vender o Facebook por mais uns trocos.
Sabem o que é que é complicado? É comer algodão doce com uma mosca. Sim, caso os meus três leitores estivessem a tentar perceber o que é esta foto, é uma mosca que pousou no meu algodão doce. Tive um momento retro há tempos e decidi comer um, o que já não fazia há uns 20 anos. Sabe muito bem, by the way, recomendo vivamente. Uma pequena mosca começou a esvoaçar à volta do dito, aproximou-se demais, como Ícaro do Sol, e ficou lá presa. Se calhar só estava a seguir a irrestível atracção do açucar e queria só provar um bocadinho, mas ficou lá presa, não conseguiu mexer mais as asas, e morreu (acho eu. Não a comi, caso estivessem a pensar nisso).
Esta elaborada metáfora é só para lembrar que o amor, tal como o algodão doce, é por natureza uma situação complicada. Mas regra geral sai-se a ganhar: eu comi o meu algodão doce e a mosca teve a morte mais feliz que um insecto pode desejar. 
E como é Natal (ou vizinhança do mesmo), gostaria de oferecer a todos os três leitores deste blogue uma prendinha: uma nova expressão idiomática. Podem passar a usar "uma mosca no algodão doce" sem pagar direitos de autor. Seguem-se alguns exemplos de uso corrente:
"As hipotecas subprime foram uma boa forma de nivelamento social, mas a mosca no algodão doce foi a crise do mercado imobiliário."
"A festa estava óptima, mas a mosca no algodão doce era que o bar estava sempre cheio."
"Estava tudo a correr bem, mas depois pousou uma mosca no algodão doce: o investidor principal desistiu."
"Meus senhores, temos de encarar os factos. Há uma mosca neste algodão doce, que é a baixa rentabilidade do nosso serviço de vendas directas."
"Ela disse-te isso? Olha, não é por nada, mas cheira-me que esse algodão doce leva mosca."
Espero que gostem. Se não servir, guardei o recibo e dá para trocar. Boas entradas!

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Pr'aligeirar


Sim, a vaidade. Toca a todos, como o sol ou a dificuldade em pôr sequer uma patinha de fora do edredão, num dia de frio, para fazer snooze no despertador. Ainda há horas dei por mim parada, estática, à montra de uma loja de manicure (sim, "loja" de manicure, isso existe, e as cutículas, essa parte mínima do corpo, podem ser sujeitas a infindáveis tratamentos. Menos extensões, acho que não se fazem extensões de cutículas. Porque, reparem, por muito relativa que seja a moda, e por muito que blah-blah-blah os homens usavam coisas que eram praticamente saias até ao século XIX e a cintura de vespa era considerada algo bonito, e não uma atracção de circo, há uns meros 50 anos, a verdade é que extensões de cutículas era só nojento; estão a imaginar, unhas cobertas de pele?). Então, estava eu parada à montra de uma loja de manicure, transfigurada por uma embalagem de verniz verde. Verde como o senhor aqui à vossa direita. Seria apropriado que a marca fosse Risquée, mas acho que não, era qualquer coisa como Gauche, De Trop ou Salope de Cinc Centimes. Enquanto as minhas mãos, guiadas por um instinto alheio a mim, se dirigiam para a carteira e sacavam do cartão de crédito, tentei chamar-me de volta à razão, argumentando que, mesmo que eu vivesse 500 anos, e saísse todas as noites, e a cada noite fosse a um local diferente, mesmo assim, num espaço de 500 anos e percorrendo todos os locais do mundo, estatisticamente haveria talvez 0,5 ocasiões em que usar verniz verde-alforreca poderia ser considerado aceitável. Bom, o,75 ocasiões se contarmos com o Santo António e aquilo fazia pandan com um manjerico. Então, bati contra a porta de entrada da loja (que estava fechada), num impulso para comprar o verniz que fazia pandan com um manjerico. A voz da razão, ou um Poder Superior, como diria a Oprah, lembrou-me que fazer pandan com um manjerico não é um traço positivo e, com uma disciplina que faria inveja a um militar da guarda suiça em 1789, vim-me embora. Sem o verniz.
Isto para dizer. Encontrei este artigo na New York:
http://nymag.com/fashion/look/2009/spring/transformations
É mais uma daquelas denúncias casuais, do estilo "oooh como as modelos são esqueléticas e feias e a beleza não passa de maquilhagem e de um jogo de espelhos", que eu normalmente acho bastante irritante. As modelos sem maquilhagem não são nem feias nem bonitas, são gente, como toda a gente. Já agora, não se deve fumar em jejum, melancia verde faz diarreia, e deve levar-se um agasalho ao peito em dias de vento. A sério, nunca ninguém vos ensinou isto? Acho que a próxima geração de mulheres não acredita mesmo nos anúncios de cosmética e, se acabarem com sérios problemas de auto-estima, não será por a Gucci ter escolhido mulheres magras para passar a sua roupa em Milão. Get a life. 
Não, o que me preocupou mesmo, ao ver este artigo, foi o facto de as modelos pré-maquilhagem parecerem prostitutas numa esquina e, pós-maquilhagem, parecerem travestis em palco. Moral da história: um verniz verde-alforreca não é assim tão gritante, em comparação.
Amanhã a ver se ainda lá está.