E achava eu que isto ia mal...
Pelo Natal, um amigo ofereceu-me um perfil no Facebook (sim, sei que é de graça, foi uma piada, a não ser que o meu amigo fosse o Steffano Dolce ou a Miuccia Prada, porque adorava ter um perfil Prada, mas não foi). Estava a dar voltas àquilo e a tentar ver se valia os milhões que a Google pagou pela cena quando vi, na configuração do perfil, que uma das opções para descrever o estado civil é "isto está complicado".
Canta Rufus Wainwright que "a vida é um jogo e o amor verdadeiro é um troféu". Sim, é cínico, é charmoso, é giro de se dizer às duas da manhã a uma criatura wide-eyed que se quer impressionar, mas é só uma canção.
Há uns tempos atrás, reparei que uma das mensagens pré-definidas da Tmn, a par de "estou já a ir" e "vemo-nos às ... em ..." era - a sério, está lá no site deles! ... estão prontos para isto, oh três leitores fiéis?... Uma das mensagens pré-definidas era... "amo-te".
O amor nem sequer é um troféu, é uma mensagem pré-definida. Sei que há muitas formas de amar; há quem construa um Taj Mahal, há quem vá preso dois anos (referência obscura a Oscar Wilde, se calhar até é mau exemplo porque depois ele ficou todo lixado com o namorado quando foi mesmo preso e amuou para o resto da vida, mas enfim), há quem cante o fado, mas parece-me que carregar em 6 teclas de um telemóvel não é muito. Quando se ama a sério. Digo eu, não sei.
Não quero parecer a Carrie Bradshaw, até porque estou zangada com essas quatro senhoras desde que saiu aquela abominação de filme, mas será que isto está assim tão complicado?
Parece-me que descrever o seu estado civil como "isto está complicado" é como descrever a existência humana como "isto dá trabalho" ou a gravidez como "isto engorda". São relações, caramba! Envolvem outras pessoas, sistemas operativos altamente complexos. Eu já fico com dores de cabeça a tentar perceber como funciona o meu leitor de mp3, quanto mais com uma relação!
E já que incluem essa opção, porque não outros clássicos, como "a minha mulher não me compreende", "o meu namorado nunca ouve o que eu digo", "a minha mãe tinha razão acerca de ti", "estamos a tirar um tempo" ou "gosto dela mas não a amo"? Lá está, se tivessem pensado nisso antes, aposto que tinham conseguido vender o Facebook por mais uns trocos.
Sabem o que é que é complicado? É comer algodão doce com uma mosca. Sim, caso os meus três leitores estivessem a tentar perceber o que é esta foto, é uma mosca que pousou no meu algodão doce. Tive um momento retro há tempos e decidi comer um, o que já não fazia há uns 20 anos. Sabe muito bem, by the way, recomendo vivamente. Uma pequena mosca começou a esvoaçar à volta do dito, aproximou-se demais, como Ícaro do Sol, e ficou lá presa. Se calhar só estava a seguir a irrestível atracção do açucar e queria só provar um bocadinho, mas ficou lá presa, não conseguiu mexer mais as asas, e morreu (acho eu. Não a comi, caso estivessem a pensar nisso).
Esta elaborada metáfora é só para lembrar que o amor, tal como o algodão doce, é por natureza uma situação complicada. Mas regra geral sai-se a ganhar: eu comi o meu algodão doce e a mosca teve a morte mais feliz que um insecto pode desejar.
E como é Natal (ou vizinhança do mesmo), gostaria de oferecer a todos os três leitores deste blogue uma prendinha: uma nova expressão idiomática. Podem passar a usar "uma mosca no algodão doce" sem pagar direitos de autor. Seguem-se alguns exemplos de uso corrente:
"As hipotecas subprime foram uma boa forma de nivelamento social, mas a mosca no algodão doce foi a crise do mercado imobiliário."
"A festa estava óptima, mas a mosca no algodão doce era que o bar estava sempre cheio."
"Estava tudo a correr bem, mas depois pousou uma mosca no algodão doce: o investidor principal desistiu."
"Meus senhores, temos de encarar os factos. Há uma mosca neste algodão doce, que é a baixa rentabilidade do nosso serviço de vendas directas."
"Ela disse-te isso? Olha, não é por nada, mas cheira-me que esse algodão doce leva mosca."
Espero que gostem. Se não servir, guardei o recibo e dá para trocar. Boas entradas!
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