terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Pr'aligeirar


Sim, a vaidade. Toca a todos, como o sol ou a dificuldade em pôr sequer uma patinha de fora do edredão, num dia de frio, para fazer snooze no despertador. Ainda há horas dei por mim parada, estática, à montra de uma loja de manicure (sim, "loja" de manicure, isso existe, e as cutículas, essa parte mínima do corpo, podem ser sujeitas a infindáveis tratamentos. Menos extensões, acho que não se fazem extensões de cutículas. Porque, reparem, por muito relativa que seja a moda, e por muito que blah-blah-blah os homens usavam coisas que eram praticamente saias até ao século XIX e a cintura de vespa era considerada algo bonito, e não uma atracção de circo, há uns meros 50 anos, a verdade é que extensões de cutículas era só nojento; estão a imaginar, unhas cobertas de pele?). Então, estava eu parada à montra de uma loja de manicure, transfigurada por uma embalagem de verniz verde. Verde como o senhor aqui à vossa direita. Seria apropriado que a marca fosse Risquée, mas acho que não, era qualquer coisa como Gauche, De Trop ou Salope de Cinc Centimes. Enquanto as minhas mãos, guiadas por um instinto alheio a mim, se dirigiam para a carteira e sacavam do cartão de crédito, tentei chamar-me de volta à razão, argumentando que, mesmo que eu vivesse 500 anos, e saísse todas as noites, e a cada noite fosse a um local diferente, mesmo assim, num espaço de 500 anos e percorrendo todos os locais do mundo, estatisticamente haveria talvez 0,5 ocasiões em que usar verniz verde-alforreca poderia ser considerado aceitável. Bom, o,75 ocasiões se contarmos com o Santo António e aquilo fazia pandan com um manjerico. Então, bati contra a porta de entrada da loja (que estava fechada), num impulso para comprar o verniz que fazia pandan com um manjerico. A voz da razão, ou um Poder Superior, como diria a Oprah, lembrou-me que fazer pandan com um manjerico não é um traço positivo e, com uma disciplina que faria inveja a um militar da guarda suiça em 1789, vim-me embora. Sem o verniz.
Isto para dizer. Encontrei este artigo na New York:
http://nymag.com/fashion/look/2009/spring/transformations
É mais uma daquelas denúncias casuais, do estilo "oooh como as modelos são esqueléticas e feias e a beleza não passa de maquilhagem e de um jogo de espelhos", que eu normalmente acho bastante irritante. As modelos sem maquilhagem não são nem feias nem bonitas, são gente, como toda a gente. Já agora, não se deve fumar em jejum, melancia verde faz diarreia, e deve levar-se um agasalho ao peito em dias de vento. A sério, nunca ninguém vos ensinou isto? Acho que a próxima geração de mulheres não acredita mesmo nos anúncios de cosmética e, se acabarem com sérios problemas de auto-estima, não será por a Gucci ter escolhido mulheres magras para passar a sua roupa em Milão. Get a life. 
Não, o que me preocupou mesmo, ao ver este artigo, foi o facto de as modelos pré-maquilhagem parecerem prostitutas numa esquina e, pós-maquilhagem, parecerem travestis em palco. Moral da história: um verniz verde-alforreca não é assim tão gritante, em comparação.
Amanhã a ver se ainda lá está.

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