segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Referendum my shiny culturally sensitive ass


Hoje de manhã ouvi uma notícia sobre minaretes.
Fiquei radiante. Sabem há quanto tempo, oh ambos os leitores deste blogue, é que espero por uma manchete, um soundbite, uma frasesinha de abertura de noticiário que contenha a palavra "minarete"? A brejeirice, como a flora intestinal, é muitas vezes descuidada, mas é igualmente indispensável para o bem-estar e a circulação geral das coisas. Ao ouvir a palavra "minarete" na rádio, tive a mesma sensação que tenho quando vejo benecol nas prateleiras do supermercado: bom, aqui estiquei-me um bocado na metáfora, mas vá, fiquei contente e a segunda-feira de ponte chuvosa  ficou um bocadinho mais soalheira ao pensar na quantidade de brejeirices que ia poder dizer ao longo do dia. 
Infelizmente, a notícia era bem mais nauseabunda do que imaginava, e não daquela forma agradável que algumas piadas de revista têm de quase nos fazer perder o almoço. 
Parece que os suíços, esse povo reservado, neutro e sem exército, conhecido mais pela sua banca discreta, as suas vacas púrpuras e os seus relógios descartáveis, têm um lado menos agradável. Não é que dois partidos de extrema-direita suíços propuseram levar a referendo público a proposta de proibir a construção de minaretes em mesquitas, na Suíça?
Se isto fosse uma revista, como ainda esperei que fosse - e que a exímia jornalista estivesse só a fazer um set-up particularmente longo para um punch-line um pouco obtuso - agora começava a tocar a banda e o cómico saía do palco a dançar, ou então desatava tudo a cantar o fado. Mas não era revista, era realidade.
Não é o que referendo foi para a frente?
E não é que os suíços - e sim, posso generalizar, porque foram 57%, contem-nos, cinquenta a sete por cento, deles - votaram pela proibição dos minaretes?
Sim, admito que aqui ainda ouvi um vago eco da Marina Mota a gritar, naquele stage whisper que ela tem que se ouve do Parque Mayer ao Campo Pequeno: "Pois, quem se lixa são as suíças!", seguido de um figurante de - sim, claro - suiças a dizer algo como "quais, estas?", mas não chegou.
Ah proibir a (caramba, isto não está fácil, mas é o verbo certo!) erecção de partes de edifícios de culto, é? Ah negar a liberdade de culto? Ah descriminar contra uma minoria religiosa? Ele é isso? Ah, tá bem, tá bonito. 
Como não sei o suficiente sobre a Suíça para os insultar de forma simultaneamente divertida e instrutiva, passei à segunda parte da questão: mas agora um referendo é a casa da mãe Joana? Entra lá quem quer, é? Referenda-se tudo? A consulta popular não é um quizz do Facebook, minha gente!  Isto não é o levanta-a-mão-se-preferes-pepsi, meus amigos. Como é que é sequer constitucional levar-se a referendo uma sugestão que é essencialmente anti-democrática? 
Se calhar estamos mesmo numa revista e eu é que estou distraída. Espero que sim.
E, pela enésima vez nos últimos oito anos, dei graças a Alah por não ser muçulmana. E pedi-Lhe desculpa por qualquer coisinha.