domingo, 2 de dezembro de 2007

Is that a cigarette in your hand or are you just happy to see me?




Lembram-se destes bons velhos tempos?


Pois, eu também não. Tenho como vaga e recôndita memória de infância andar de autocarro em Lisboa e haver uma ou outra pessoa a fumar. Era uma imagem bonita, porque as janelas de autocarro são suficientemente grandes para se poder olhar por elas com melancolia - que é uma coisa que sabe muito bem com o cigarro. Quando comecei a andar de comboio regularmente, ainda havia uns cinzeiros ao lado dos assentos, mas eram já relíquias de outros tempos, pequenos repositórios de metal onde já nem as cinzas do passado se guardavam. E lembro-me, claro, de toda a gente fumar na televisão e no cinema. Na verdade, acho que só nos filmes da Disney e nos programas infantis é que não se fumava (e os apresentadores de programas infantis, céus! Como dizia alguém: não sei se estavam drogados ou se deviam estar drogados).


Aproximam-se tempos difíceis - se é que já não chegaram, ainda não percebi se é neste mês ou em Janeiro que entra em vigor a infame lei de proibição de fumar em espaços públicos. Já tive ocasião de passar algum tempo em lugares onde leis semelhantes se aplicavam. Como não passei muito tempo lá, achava piada. Aquele silêncio constrangedor que se faz à mesa, quando levantam as entradas, e os fumadores começam todos a retorcer as mãos ou a brincar com as pontas da toalha, até que alguém mais corajoso anuncia, timidamente: «desculpem, vou só lá fora fumar um cigarrinho...» - seguido de um coro de três ou quatro vozes: «olha, faço-te companhia». A converseta que se faz com os outros fumadores à porta dos edifícios, os olhares de cumplicidade que se troca.


A imagem acima remete-nos a um tempo mais livre e inocente. Um tempo em que fumar não era sinal de uma idiotice chapada comparável apenas à de tentar arrancar as torradas da torradeira com uma faca, secar o cabelo no duche ou cortar as unhas com uma serra eléctrica. Quando fumar era sinal de requinte. Aliás, basta ver o penteado dela, os brincos, o champanhe, os menus (há-de ser um restaurante para o caro), o relógio dele. A mão dele é a de um homem «moderno e de requintado bom gosto» (vem no anúncio). Bom, por acaso acho que a mão dele sugere mais violência doméstica do que romantismo, mas a estética dos nos 70 também passava muito por aí.


O que este anúncio também evidencia é uma componente subliminar do acto de fumar: a componente sexual. O objectivo de fumar nem sempre foi o de contrair doenças cardiovasculares e morrer lenta e dolorosamente, ter impotência sexual, prejudicar gravemente a saúde dos que nos rodeiam ou obrigar as crianças a respirar o nosso fumo. A dada altura, fumar era sinónimo de maturidade, sobretudo de maturidade sexual. Cada fumador neófito procurava um estilo de fumar que o fizesse parecer mais sexy: desde a maneira de segurar o cigarro à maneira de inalar, todos os gestos eram calculados. E, claro, cada marca associava o fumador a características distintivas. Aliás, sempre achei que os slogans de cada marca de cigarro davam belíssimas frases de engate. Ora vejamos:


1 - Come to where the flavor is (Marlboro).


2 - It's a woman's thing/ You've come a long way, baby (Virginia Slims).


3 - Blow some my way (Chesterfield).


4 - Taste me! Taste me! (Doral).


5 - Come all the way up to Kool (Kool).


6 - So much more to enjoy (Peter Stuyvesant).


7 - A silly millimiter longer (Chesterfield).


8 - Alive with pleasure (Newport).


9 - Light n' sassy (Misty).


10 - We've got the taste that's right, right any time of the day (Viceroy).


11 - It's what's up front that counts (Winston).


12 - Almost as pretty as you are (Eve).


13 - Why don't you pick me up and smoke me sometime (Muriel).


A Camel é a grande vencedora (e não digo isto só por fumar Camel Lights, perdão, azuis, agora não se pode dizer «lights» porque dá a entender que é menos prejudicial, bl-bla-bla):


1 - Slow dow, pleasure up.


2 - It's your taste.


3 - Where a man belongs.


Depois disto, quero ver quem é que se lembra que beijar um fumador é como lamber um cinzeiro!


Quando já não se puder fumar em nenhum recinto fechado, poderemos sempre mandar imprimir t-shirts com estes slogans para atingir o efeito desejado de sex-appeal.


Ou isso ou ir fumar para a rua, se não estiverem temperaturas muito negativas.

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