domingo, 13 de janeiro de 2008

Não Tem Mais Pequeno?


No fundo do nosso armário psíquico, por trás da incerteza sexual, das neuroses da estação passada e das fobias mais berrantes, todos nós temos vícios inexplicáveis. Prazeres secretos e bizarros que existem desde que a humanidade é humanidade. Quando o fogo foi inventado, a par de exclamações como «a comida sabe melhor depois de passar por isto» e «isto dentro das cavernas sabe bem», ouviu-se certamente o grunhido de prazer do primeiro fetichista do fogo. Esta foi uma das razões que levou Freud, visionário como era, a colocar a sua cadeira de psicanalista por trás do divã. Dizia ele que era o mesmo princípio do confessionário católico: sem ver a cara do interlucotor, a pessoa sentir-se-ia mais desinibida. Mas este era o mesmo homem que via símbolos fálicos em tudo, embora fosse viciado em charutos (charutos grossos e grandes), e cunhou a famosa frase «às vezes um charuto é só um charuto» - ou seja, nem sempre era dado à veracidade. E a verdadeira razão para se sentar atrás dos pacientes e fora do seu ângulo de visão era para poder fazer caretas de nojo ou rir-se à vontade.
Um dos meus prazeres secretos é uma coisa chamada Gossip Girl, a nova série dos criadores de The O.C. (outro vício secreto e que em português tem o delicioso título «Na Terra dos Ricos»). É a típica novela de adolescentes que, segundo me dita o anjinho que vive no meu ombro direito, eu tenho demasiada idade, bom gosto e juízo para ver. Em resposta, o diabinho que vive no meu ombro esquerdo só me pisca o olho e lá mergulhamos nós na complexa trama da vida dos milionários de 16 anos, tendo como fundo a impiedosa paisagem do Upper East Side.
Das raras vezes que partilho este segredo com alguém, a reacção costuma ser de choque. Ninguém gosta de admitir que tem uma amiga que vê novelas de adolescentes; é um estigma social pesado. E eu faço pior quando tento justificar este gosto, o que me leva a explicar o complicado enredo, a descrever o guarda-roupa e a exaltar, entre suspiros, as larocas carinhas - e corpinhos - dos protagonistas (estes produtores têm por hábito usar, para os papéis principais, umas blonde bombshells que elevam o beicinho a uma arte; Mischa Barton e delícias semelhantes). É nessa altura que o meu interlucotor se começa a afastar, sem fazer movimentos bruscos para não me assustar, tendo-me arquivado, na sua mente, como «louca mansa mas dada a surtos ocasionais».
Mas, como todos os cães têm o seu dia, a Gossip Girl tem um pormenor que me permite redimir-me socialmente: é a tosta de queijo que vos apresento na foto. Chama-se «Gilt Grilled Cheese Sanwich» e é confeccionada pelo chef Chris Lee, do restaurante Gilt. Este restaurante fica no New York Palace, o hotel onde, na série,vive o mau da fita, Chuck Bass. A tosta foi actriz convidada de um episódio de culto e popularizou-se a partir daí.
Como podem ver (http://nymag.com/daily/food/2007/12/gilts_gossip_girl_grilled_cheese.html)
esta não é nenhuma tosta de pão bimbo com queijo do dia e banha de porco. É feita com pão artesanal, queijo fontina e trufas pretas por dentro, raspas de trufa branca por cima, e servida com batatas fritas regadas com azeite de trufas e salada de rúcula. Custa 50 dólares e o chef garante que só a faz por piada, porque até perde dinheiro com ela a esse preço.
Qualquer pessoa que aprecie a arte da extravagância ou queira fazer uma nota de rodapé engraçada num ensaio de Sociologia verá a delícia conceptual que é esta tosta. Pegar num snack de pobres e enchê-lo de ingredientes caríssimos é, de alguma forma, uma expressão culinária do sonho americano. Só numa meritocracia sem classes estanques é que poderia existir este fenómeno: ricos ou pobres comem o mesmo, os ingredientes é que podem ser mais caros ou mais baratos. É novo-riquismo, mas em bom. É arrivismo, mas da variedade dos Astors e Vanderbilts - o arrivismo que casa bem e caça títulos. É ostentação, mas não é para amadores. É, basicamente, o que faz a geração a seguir àquela que fez dinheiro: comer dinheiro.
E deve saber tão bem...

Um comentário:

Women in their 30´s disse...

How sad to think that there are 15 year olds ( millionaires or with parents on the dole.Who cares?) Even sadder to see that most of the actors are really minors ... and will be very rich before they hit 18!
PS - As for the cool sandwich in New York ( or anywhere for that matter ) skinny chicks do not eat! 16 or 66! Or divine looking men for that matter. :)
But if you say it outloud 3 times ... you never know it might just come true: "chubby" (but firm) healthy bodies - the new trend! (I am saying it out loud right now...)