quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Bill and Steve, not Adam and Eve


Isto porque: estava há tempos a discutir - não era bem uma discussão, era um animado câmbio de pontos de vista concordantes; estava a concordar com veemência, pronto - com um amigo acerca do ultrajante peso da direita católica na oposição ao casamento gay, e lembrei-me deste anti-slogan, cujo sentido é mais ou menos este: o que é preciso, em qualquer tempo mas sobretudo neste de crise, é empreendedorismo sem qualquer interferência na vida privada dos cidadãos, num estado que garanta a todos plenos direitos. E mais uma data de coisas foram ditas, mas, para parafrasear e ao mesmo tempo pedir desculpa a Martin Lutrher King, estou farta de lutar por algo que me pertence por direito, por isso não vou falar do casamento gay nem de todas as coisas brilhantes que eu e este meu amigo dissemos a respeito. Fica só o slogan.

Que vem a propósito de, também: uma instância de como às vezes temos de lutar por aquilo que nos pertence por direito, ou, dito de outra forma, há cada vez mais gente com uma grande lata. Há dias fui com a minha mãe à Perfumes e Companhia porque queria comprar um esfoliante da Clinique. Estou a citar as marcas todas na esperança de as envergonhar um bocadinho. A menina que lá trabalhava explicou-me como tratar das minhas necessidades básicas de hidratação (o que dava uma belíssima fala para um filme porno, mas não foi o caso) e depois incitou-me, incentivou-me, evangelizou-me a usar um determinado hidratante. Quando peguei no frasco do mesmo, ela suspirou e disse: "Pronto. E agora, os olhos?" Por momentos pensei que fosse uma referência edipiana obscura, por isso perguntei qualquer coisa como "quais olhos?". Os meus, explicou ela, o que é que eu fazia por eles? Enchê-los de boa televisão, bom cinema e literatura, aparentemente, não chega. Havia que cuidar do chamado "contorno dos olhos" (cuidar do contorno do olho também era uma boa fala para um filme porno). Disse-lhe educadamente que não queria mais creme, obrigada. Estava a conter-me, na verdade, porque sou da opinião que a imposição de cosméticos, com base na infusão de uma profunda insegurança, ao sexo feminino, através dos media e da publiciudade, en masse, é um dos motores da economia mundial, e que nunca haverá uma verdadeira crise financeira enquanto as mulheres, que ainda ganham, em média, menos que o homens, gastarem grande parte do seu rendimento em cremes manufacturados para melhorar defeitos imaginários em partes do corpo anatomicamente irrelevantes, a não ser que se esteja sob a luz crua dos holofotes de um cover shoot da Vogue, o que, admitamos, acontece a poucas de nós. Para não usar todos estes advérbios com a menina, que me parecia algo impaciente, fui só repetindo um educado "ah não, deixe lá estar", o que pareceu enfurecê-la ainda mais. A sua insistência foi fazendo um crescendo digno de Brahms, até culminar num arrasador: "é que se não fizer nada, daqui a uns anos está como ela", apontando para a minha mãe.

Ora, a minha mãe é uma aficcionada de programas de vida selvagem, e tem um conhecimento enciclopédico de formas de matar, esfolar, mutilar, devorar, encastrar, estropiar, caçar e em geral causar o fim da vida por predação. E também o sabe aplicar à vida mais selvagem que ocorre fora das savanas, oceanos e florestas. Mas neste momento preferiu usar a estratégia consagrada por alguns predadores mais selectivos: fingir que não ouviu. Eu, que ainda não "acabei como ela", fui menos esperta, e ouvi.

Admito-o: não sei muito de marketing e desconheço se a eficácia da fórmula "insulte a mãe do cliente" tem mesmo contrapartidas comerciais eficazes. Estou a lembrar-me, por exemplo, da famosa campanha "beba Coca-Cola, seu filho da puta", e da sua rival, "a puta da tua mãe bebe Coca-Cola; pede Pepsi". E quem não se lembra do nosso nostálgico: "tal como a tua mãe roda lá pela rua, a pasta medicinal Couto anda na boca de toda a gente". Mas não sei, comigo não resultou. Saí e levei só o esfoliante original, o que já foi uma vitória parcial para a sociedade patriarcal. Mas fiquei a pensar.

A lata em geral não devia prescrever. Lembrei-me, nas horas e dias imediatamente a seguir, de inúmeras respostas satíricas e devastadoras. Serei privada da satisfação que me dariam só por o timing não estar do meu lado? Devia-me ser permitido, por exemplo, seguir esta menina na rua e lançar-lhe farpas em resposta à pergunta que me fez, começando pelo mais pobre "e a alternativa é acabar como a menina, com os olhos maquilhados como se fosse um guaxinim?" e indo até ao sofisticado, se bem que hermético, "sabe qual é a vitória de uma gata em telhado de zinco quente?" (que ficaria bem seguido de um belo bitch-slap).

Enfim, isto para dizer que o senhor da fotografia é o Harvey Milk, não o Zero Mostel, e que às vezes é difícil manter a boa disposição quando se está a lutar por algo que nos pertence por direito.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009


Diz que há um bispo. Ou entidade eclesiástica de destaque. Foi aos media ou assim. Não sei, ouvi no carro (foi no rádio, não tinha um bispo no carro) e era de manhã e depois tive imenso trabalho. Normalmente, vocês sabem, oh 3 leitores, que eu até gosto de apresentar os factos todos, mas não me obriguem a ir verificar ipsis verbis o que ele disse. O que foi reportado foi que o Bispo ou assim disse, anunciou, ex catedra e publicamente, bem alto e para quem quiser ouvir, que a homossexualidade não é normal.
E pimba. Eu sabia, eu sabia! Ainda não vi o Dúvida - por falar em qual, acho que Hollywood anda a espiar as minhas fantasias secretas, porque puseram finalmente a Meryll Streep a fazer de freira má; se um dia fizerem um remake do 8 Mulheres com a Lindsay Lohan e a Deborah Cristal, fica confirmada a teoria - bom, ainda não vi o Dúvida, mas há tempos que suspeitava do seguinte: aquilo do Concílio Vaticano II era verniz que ia estalar. Ah, pois é, bebé. Ou pensavas o quê? Ecumenismo, ecumenismo, há muitas moradas na casa do meu Pai (vá lá, leiam a Bíblia!) e isso tudo, mas a Salvação é a Salvação, a Danação é a Danação, Pecado é Pecado e Igreja é Igreja. 
Primeiro, foram aqueles Padres da congregação não-sei-de-quê que negaram o Holocausto. Depois, foi um outro Padre (cujo sobrenome - juro, que nesse dia estava a ouvir o rádio com atenção - é Abramovich! Oy Vey!) que tentou desculpar os revisionistas anti-semitas dizendo que aquelas câmaras não eram bem de gás, eram mais de banho e desinfecção, e que também ninguém ligava tanto ao Holocausto se não fosse pelo facto de os judeus mais ou menos assim como que controlarem os média mundiais.
Depois foi o meu até-então-bem-querido-e-fumador-em-série Catedral Patriarca a dizer que o casamento de cristãs com muçulmanos era "um monte de sarilhos". Tem piada, mas não tem, porque na semana a seguir a revista Sábado publicou uma """""reportagem"""" (o excesso de aspas é para denotar que questiono a seriedade da mesma, duh!) sobre os horrores que certas pobres cristãs tinham sofrido às mãos dos maridos muçulmanos.
E antes disso tinha sido esta reportagem muito gira que li no NY Times
www.nytimes.com/2009/01/11/magazine/11punk-t.html?_r=1&emc=eta1
sobre neo-calvinismo. Apetece-me escrever imenso acerca deste conceito, mas fica para depois. Por enquanto, convém só que conste que, embora existam muitas coisas boas acerca das quais ser neo ou apreciar em tom retro - a estética da propaganda comunista, a música disco, as patilhas em homens (e algumas mulheres), as calças de ganga deslavadas - uma doutrina religiosa que afirme a salvação pela Graça Divina com exclusão da acção humana parece-me... uhm... perigosa? Sobretudo quando a dita é acompanhada de música fixe e atrai uma população heterogénea de almas perdidas.
Não é para ser alarmista, mas... mais ninguém está a ver, tipo, Munique 1923? (Vá lá, vão à Wikipedia!)
Quando se começa a ouvir vagamente no rádio comentários anti-semitas, racistas e homofóbicos, numa altura de crise económica, bom... esta na altura de levantar o guito da conta suiça ou offshore em geral e bazar para algum paizeco esquecido (como outrora foi Portugal). Porque não estão muito longe a evacuação em massa e a reeducação política através da inserção de uma bala na nuca. Para dar só um exemplo assim mais soviético. 
Voltando à batata apostólica: eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, este verniz da tolerância ia estalar das bem manicuradas unhas da doutrina católica. Os católicos são mais ou menos como aquela tia-avó meio bêbeda nos jantares de família. Começa por ser cordial e bem-educada, fala com as irmãs e faz festinhas aos pequenos, ajuda a trazer coisas da cozinha, mas atenção. Podem ter a certeza que, depois de vários cálices de Porto enchidos às escondidas e todo o vinho que ela conseguir surripiar dos copos dos convidados mais distraídos, a dita tia-avó se vai passar. E é então que a vão ouvir dizer, num stage whisper gélido e alto, tudo o que ela sempre pensou acerca do segundo casamento do sobrinho, do facto da prima ainda ser solteira, do cão dos netos, da casa e do marido da irmã, da plástica da sobrinha e do sítio para onde vocês todos podem ir.
(Por falar nisso, não tenho uma tia-avó assim, mas aceitam-se candidaturas)
Ou seja, o gato saiu do saco. Foi dito: a homossexualidade não é, do ponto de vista deste e certamente de outros vicários de Cristo, normal. Mas, para ser algo que este Bispo não foi - caridosa -, vamos tentar ver a coisa por um prisma mais simpático. Se calhar o que ele queria dizer era que os homossexuais, não sendo normais, têm poderes paranormais. Podem dobrar colheres com o pensamento, por exemplo (ou vergar pessoas com comentários sarcásticos). Podem adivinhar o futuro (mormente "ele não me vai voltar a ligar" ou "ela não vai parar de me ligar"). Um superpoder têm de certeza. Quem já fez um coming out sabe que isso é muito, muito mais difícil do que voar, mudar de roupa numa cabine telefónica ou saltar por cima de arranha-céus.
E é certamente mais admirável que usar uma batina para condenar os seus (dele) irmãos em Cristo. Ora, francamente, bicha!

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Isso


Ai, amores, tive o dia todo aflitinha pa vos vir contar. Vá, Três Leitores Deste Blogue, vamos ali há bica num estante enquanto eu ponho a sopa ao lume.
Antão:
Tava eu hoje a desser as escadas (a ver se ando mais a pé que a pessoa o dia todo sentada não faz nada bem) e passei por umas meninas lá do segundo (do administrativo, não era da contabilidade).
E vai uma, ah, então vão vocês comprar as gomas.
E vai outra, ah e das quais é que trazemos?
E diz uma outra, ah a ver se trazem é daquelas gomas insufláveis.
E vai outra, das quais?
E vai uma: marshmallows?
E vai a outra: isso.

Prontos, agora tenho de ir que deixei a sopa ao lume. Até mai logo.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

O Que Escrever Quando Não Se Tem Nada Para Escrever: Jornalismo


ACTUALIDADE 
O dia de hoje foi uma vez mais marcado por um forte acréscimo de trabalho. Segundo relatórios não-oficiais, das 5 tarefas agendadas para hoje pela Tentativa Desesperada de Manter Alguma Organização no Trabalho (TDMAOT), apenas uma foi cumprida, e apenas parcialmente. Embora as estimativas oficiais apontem para números mais elevados e as autoridades apelem à calma e ao diálogo, Eu revelei-me preocupada com o volume de trabalho e a ausência de liderança efectiva.
A par da TDMAOT, As Colegas (AC) demonstrou também elevados índices de preocupação e stresse, sendo a declaração oficial de que "isto anda bem, anda" subscrita por unanimidade. Cada sector de AC apresentava reivindicações distintas, mas todas elas com um traço comum: o elevado volume de trabalho.
Os orgãos reivindicativos apresentavam como principal responsável pelo Lindo Estado Em Que Isto Anda (LEEQIA) a Pessoa do Novo Director de Marketing (PNDM). Tendo assumido funções há apenas duas semanas, provocou reacções distintas no seio dos orgãos representativos. Embora não esteja estabelecida uma relação causal directa, está contudo comprovado que a sua chegada coincidiu com um aumento do volume de trabalho - aumento esse que tem provocado a indignação da comunidade internacional. Publicações internacionais relatam incidentes de peroculosidade vária, tais como explosões com namorados e/ou companheiros, consumo indevido de calorias excessivas, e um ímpeto incontrolável de bater com a cabeça na parede. A nível nacional, tem-se verificado uma forte vontade de espetar com a cabeça num balde de água gelada e um decréscimo da vontade de sair, apesar de protestos e manifestações por parte de amigos e família.
Para além da sessão plenária das 16:00, a TDMAOT convocou uma sessão extraordinária de Cigarrada com AC para discutir em mais pormenor o LEEQIA e os desígnios sondáveis e insondáveis da PNDM. Até ao fecho desta edição, a única conclusão apresentada foi a de que "ainda hoje é terça-feira".

DESPORTO
Os adeptos do Pilates viram hoje as suas expectativas goradas ao chegar cinco minutos mais tarde à aula. Observando as estritas regras da disciplina, não são permitidas entradas tardias. Fontes próximas de Mim culparam o trânsito, embora entre alguns adeptos corresse também o rumor de que a Direcção não decora correctamente os horários das aulas. "Aquilo ali anda sempre uma confusão: nunca sabe se a aula é às sete ou às sete e um quarto e depois olha, chega atrasada", comentou o meu Sentido de Auto-Crítica. 
Contudo, a aula de Circuito decorreu sem incidentes e foi, na verdade, um belo evento desportivo. Sob a direcção da Treinadora Boazinha, foram executados correctamente e com muita energia todos os exercícios, incluindo alguns Triplos Joelhos e Abdominais particularmente exigentes. 
Espera-se uma adesão muito forte à sessão de amanhã de Quarta-Feira de Abdominais. Estará a equipa de casa preparada para este desafio? Amanhã teremos a resposta.

CULTURA
Mais uma vez, a Culturgest serve de casa à música do mundo, desta feita com o festival Hootenany de música folk norte-americana. Na raíz de estilos tão diversos como o blues, o country e o próprio rock, o folk primitivo norte-americano é de uma riqueza musicológica e etnológica assinalável. As pessoas que tiveram a sorte de conseguir bilhetes para o concerto de hoje de Pete Seeger e não esperaram até à última da hora para passar na FNAC ou ligar à Ticketline poderão confimá-lo.

METEREOLOGIA
Os rigores da estação não deixaram de se fazer sentir durante o dia de hoje, tendo-se o frio acentuado ao anoitecer. Os termómetros indicam que hoje mesmo assim não estava tanto frio e que o vento ainda é o que mais incomoda. Prevê-se que o excesso de frio, o cansaço da chuva e a ânsia pela Primavera forneçam motivo de conversa até meados de Março.

PÁGINAS SOCIAIS
A correspondente desta secção encontra-se de baixa ou então tem a cabeça enfiada num balde de água gelada.