quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009


Diz que há um bispo. Ou entidade eclesiástica de destaque. Foi aos media ou assim. Não sei, ouvi no carro (foi no rádio, não tinha um bispo no carro) e era de manhã e depois tive imenso trabalho. Normalmente, vocês sabem, oh 3 leitores, que eu até gosto de apresentar os factos todos, mas não me obriguem a ir verificar ipsis verbis o que ele disse. O que foi reportado foi que o Bispo ou assim disse, anunciou, ex catedra e publicamente, bem alto e para quem quiser ouvir, que a homossexualidade não é normal.
E pimba. Eu sabia, eu sabia! Ainda não vi o Dúvida - por falar em qual, acho que Hollywood anda a espiar as minhas fantasias secretas, porque puseram finalmente a Meryll Streep a fazer de freira má; se um dia fizerem um remake do 8 Mulheres com a Lindsay Lohan e a Deborah Cristal, fica confirmada a teoria - bom, ainda não vi o Dúvida, mas há tempos que suspeitava do seguinte: aquilo do Concílio Vaticano II era verniz que ia estalar. Ah, pois é, bebé. Ou pensavas o quê? Ecumenismo, ecumenismo, há muitas moradas na casa do meu Pai (vá lá, leiam a Bíblia!) e isso tudo, mas a Salvação é a Salvação, a Danação é a Danação, Pecado é Pecado e Igreja é Igreja. 
Primeiro, foram aqueles Padres da congregação não-sei-de-quê que negaram o Holocausto. Depois, foi um outro Padre (cujo sobrenome - juro, que nesse dia estava a ouvir o rádio com atenção - é Abramovich! Oy Vey!) que tentou desculpar os revisionistas anti-semitas dizendo que aquelas câmaras não eram bem de gás, eram mais de banho e desinfecção, e que também ninguém ligava tanto ao Holocausto se não fosse pelo facto de os judeus mais ou menos assim como que controlarem os média mundiais.
Depois foi o meu até-então-bem-querido-e-fumador-em-série Catedral Patriarca a dizer que o casamento de cristãs com muçulmanos era "um monte de sarilhos". Tem piada, mas não tem, porque na semana a seguir a revista Sábado publicou uma """""reportagem"""" (o excesso de aspas é para denotar que questiono a seriedade da mesma, duh!) sobre os horrores que certas pobres cristãs tinham sofrido às mãos dos maridos muçulmanos.
E antes disso tinha sido esta reportagem muito gira que li no NY Times
www.nytimes.com/2009/01/11/magazine/11punk-t.html?_r=1&emc=eta1
sobre neo-calvinismo. Apetece-me escrever imenso acerca deste conceito, mas fica para depois. Por enquanto, convém só que conste que, embora existam muitas coisas boas acerca das quais ser neo ou apreciar em tom retro - a estética da propaganda comunista, a música disco, as patilhas em homens (e algumas mulheres), as calças de ganga deslavadas - uma doutrina religiosa que afirme a salvação pela Graça Divina com exclusão da acção humana parece-me... uhm... perigosa? Sobretudo quando a dita é acompanhada de música fixe e atrai uma população heterogénea de almas perdidas.
Não é para ser alarmista, mas... mais ninguém está a ver, tipo, Munique 1923? (Vá lá, vão à Wikipedia!)
Quando se começa a ouvir vagamente no rádio comentários anti-semitas, racistas e homofóbicos, numa altura de crise económica, bom... esta na altura de levantar o guito da conta suiça ou offshore em geral e bazar para algum paizeco esquecido (como outrora foi Portugal). Porque não estão muito longe a evacuação em massa e a reeducação política através da inserção de uma bala na nuca. Para dar só um exemplo assim mais soviético. 
Voltando à batata apostólica: eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, este verniz da tolerância ia estalar das bem manicuradas unhas da doutrina católica. Os católicos são mais ou menos como aquela tia-avó meio bêbeda nos jantares de família. Começa por ser cordial e bem-educada, fala com as irmãs e faz festinhas aos pequenos, ajuda a trazer coisas da cozinha, mas atenção. Podem ter a certeza que, depois de vários cálices de Porto enchidos às escondidas e todo o vinho que ela conseguir surripiar dos copos dos convidados mais distraídos, a dita tia-avó se vai passar. E é então que a vão ouvir dizer, num stage whisper gélido e alto, tudo o que ela sempre pensou acerca do segundo casamento do sobrinho, do facto da prima ainda ser solteira, do cão dos netos, da casa e do marido da irmã, da plástica da sobrinha e do sítio para onde vocês todos podem ir.
(Por falar nisso, não tenho uma tia-avó assim, mas aceitam-se candidaturas)
Ou seja, o gato saiu do saco. Foi dito: a homossexualidade não é, do ponto de vista deste e certamente de outros vicários de Cristo, normal. Mas, para ser algo que este Bispo não foi - caridosa -, vamos tentar ver a coisa por um prisma mais simpático. Se calhar o que ele queria dizer era que os homossexuais, não sendo normais, têm poderes paranormais. Podem dobrar colheres com o pensamento, por exemplo (ou vergar pessoas com comentários sarcásticos). Podem adivinhar o futuro (mormente "ele não me vai voltar a ligar" ou "ela não vai parar de me ligar"). Um superpoder têm de certeza. Quem já fez um coming out sabe que isso é muito, muito mais difícil do que voar, mudar de roupa numa cabine telefónica ou saltar por cima de arranha-céus.
E é certamente mais admirável que usar uma batina para condenar os seus (dele) irmãos em Cristo. Ora, francamente, bicha!

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