domingo, 18 de novembro de 2007

Lime Green Crocs


A revista New York publicou há pouco tempo um artigo acerca dos piores (leia-se, mais pirosos e detestados) sapatos das últimas décadas:

Tinha de passar pelos crocs, claro. Mas o que me parece que o artigo também demonstra é que cada sapato é representativo da sua época. Do pior, do melhor, do mais típico, do que se vê quando se sai à rua. Quer nos faça pensar «ai por amor de deus ainda nem tomei café e já tenho de estar a levar com isto» ou «olha, ficava bem com aquelas calças que lá tenho e que nunca visto» ou «apetece-me TANTO pisar esta gaja», a verdade é que, de um dia para o outro (é sempe de um dia para o outro), eles estão em todo o lado. Nos pés, nas montras, nas revistas, nas conversas e, mais recentemente até, na Oprah. Quer sejam concebidos por ortopedistas ou por designers, tornam os seus criadores ricos e os seus utilizadores sujeitos a toda a espécie de comentários. A progressão deste é mais ou menos a seguine:

«Ah estes é que são os X?»

«No outro dia vi uma gaja a usar X.»

«Poça, agora toda a gente usa X.»

«Comprei uns X. (objecção de ouvinte). Não, por acaso nem são.»

«São X, mas são de imitação.»

Pensado: «Deito fora ou ainda uso?»

Pausa de alguns anos: «Foi nessa noite, foi, e eles até estavam a usar X... bem, X, lembras-te disso?»

A nostalgia tem como banda sonora o som de uma caixa registadora, porque só se gera à volta de coisas típicas que, para se tornarem típicas, foram consumidas em grande escala. Tenho para mim que as vacas/bisontes/ bichos cornudos que o homem primitivo pintava em cavernas eram all the rage da época imediatamente anterior.

E, quer se goste ou não, os crocs são típicos da nossa geração. Alguém comentou uma vez que, quando se fizerem festas dos anos 00, as pessoas vão levar óculos oversize e crocs. E t-shirts da Paris Hilton, porque o «retro» tem destes erros. E vão passar a música do Dartacão, do Verão Azul, e TODA a música que alguma vez foi produzida entre 1979 e 1988. Com destaque para «you were working as a waitress in a cocktail baaaar when I met you...».

À sua humildemente garrida maneira, os crocs captam o élan da nossa geração.

São garridos (mas também os há em tons pastel, para serem usados por aquelas matronas de meia-idade que, agora ao que parece, se inspiram nos filhos para o vestuário);

São de plástico, o que me poderia levar a fazer tantos comentários como os que me surgem quando vejo um Magritte - sobretudo por não serem de plástico mas de uma coisa que alguém agora muito rico inventou e que não é plástico mas cheira e sabe a plástico. Mas fico-me pela ênfase: são DE PLÁSTICO.

São tão obviamente para crianças que ninguém se dá ao trabalho de o negar. O infantil chic é o novo heroin chic.
São confortáveis (sem ficarem a cheirar a cebolada de vinagrete passado umas horas).

Parecem uma coisa completamente nova mas na verdade não passam de sandálias.

No artigo da New York, alguém comentou que os crocs são um sinal do Apocalipse.

A moda deixa de ser moda e passa a ser «moda»; e assume proporções bíblicas.

E isso, atrevo-me a postar, somos nós.

Um comentário:

Women in their 30´s disse...

Today plastic is the new gold, good to know there is someone out there who can still tell the difference...and worst of all REMIND that platic = golds is just sad.