quarta-feira, 1 de julho de 2009

Medmoiselle!


Finalmente, aconteceu.
Eu sabia que este dia ia chegar, mas nada me preparou para isto.
Está uma pessoa tranquilamente a comprar tabaco. Pede uma pessoa para trocar dinheiro para a máquina de tabaco. Aproxima-se uma pessoa de trocos na mão da máquina de tabaco. Vê uma pessoa duas crianças de fato e gravata (sabe a pessoa que são crianças porque as mangas dos fatos dão-lhes até às falanges e têm as gravatas enfiadas dentro das camisas. E usam os óculos de sol como bandeletes o que, a sério, faz a pessoa pensar onde irá parar esta juventude).
E ouve a pessoa:
"Olha lá, deixa passar a senhora".
A SE-NHO-RA!
Se a pessoa estivesse vestida com as calças de ganga de domingo, que a pessoa já tem desde antes da queda do Muro de Berlim, e com a t-shirt de sábado (que tem mais manchas que o Muro de Berlim), e a carregar sacos de compras, vá, ainda se compreendia.
Mas vindo a pessoa fresquíssima e arranjadíssima de uma reunião (de trabalho, não dos AA), com um impecável vestido vintage (passe o oxímoro) e umas encantadoras melissas, pergunto:
A pessoa merece isto?
A pessoa não merece isto.
Tive de fazer um esforço considerável (nada recomendável, na minha idade) para não gritar que senhora devia ser a puta da mãe dele. Se não fosse pelo medo de ouvir algum comentário acerca das flutuações de humor típicas da menopausa, tinha desatado a chorar no ombro da colega com quem estava a tomar café. Tal como não sabe que as gravatas são para usar por cima, e não por dentro, das camisas, e os óculos para usar nos olhos e não no cabelo, esta criançada não distingue idades a partir dos 25 e aglomera-as todas na abrangente categoria de pessoas que não têm o cartão jovem (será que ainda há cartão jovem? Os jovens ainda usam cartão? Ainda se diz jovens?)
O que vale é que o New York Times, essa senhora ainda mais provecta na idade do que eu, me preparou para o inevitável com este delicioso artigo.
*suspiro* Pois é. Está na altura de me juntar à tribo das Coco Chanéis, das Mrs. Havisham, das Isabella Bowes (que era uma falsa velha, ou velha mais em espírito) e das Wally Simpsons-Windsors do mundo. Na verdade, uma das minhas ambições na vida sempre foi a de ser uma velha excêntrica. Imaginei algo como ir comprar o jornal de papagaio ao ombro, fazer-me de surda para turistas que me pedissem indicações, ensinar os netos a fazer cocktails, congestionar as ruas tentando ler cartazes de concertos a partir do meio do passeio e depois pedir aos transeuntes mais stressados que me explicassem como se pronuncia "ticketline", desenhar grafittis ordinários nos albuns de família, rir-me das conversas de desconhecidos em cafés e dizer num stage whisper "ora agora!" (por acaso isso já faço). Ou filiar-me no Bloco de Esquerda, não sei algo que me fizesse parecer alienada mas não o suficiente para ser internada.
Mas pensei que tinha mais tempo (famous last words). Não sabia que era para já, que ia ter de começar a ser uma velha excêntrica quando ainda sou mais nova que a Wally era quando fisgou o Duque de Windsor!
*suspiro redobrado*. Bem, acho que vou seguir a sugestão do Times. Vou vasculhar as minhas gavetas de roupa interior para encontrar umas meias que sirvam de acessórios para o cabelo, comprar umas camisetas às riscas para usar debaixo de camisas de flanela atadas num nó à cintura e caçar umas aves para usar penas como fashion statements. E comprar uns quilos de maquilhagem berrante.
Para Senhora, Senhora e Meia! 

PS - E não precisei de ir à Universidade da Terceira Idade para finalmente aprender a inserir links neste maldito blogger!

Nenhum comentário: